O Resgate de Harrison (Harrison Flowers) é um filme de 2000 sobre fotógrafos de guerra, dirigido por Élie Chouraqui e baseado no livro Le Diable a lávantage (1995), de Isabel Ellsen. Desenvolve-se com as personagens Harrison Lloyd (David Strathairn), premiado fotógrafo considerado morto em seu trabalho na Guerra dos Balcãs, sua esposa Sarah Lloyd (Andy MacDowell), decidida a encontrar Harrison vivo, e os dois fotógrafos de guerra que a auxiliam na busca pelo marido: Kyle Morris (Adrien Brody) e Marc Stevenson (Brendan Gleeson).
Enviado para a Guerra dos Balcãs quando já desejava
redirecionar a carreira profissional para atividades mais tranquilas, de modo a
dedicar mais tempo à família e a cuidar de sua estufa de flores, Harrison é
dado como morto. Sem aceitar como verdadeira a notícia da morte do marido,
Sarah deixa um casal de filhos pequenos nos EUA e viaja até a área conflituosa
onde, supostamente, Harrison teria morrido. Mergulhando em um universo de
grande violência e riscos para a sua integridade física e mental, em vários
momentos, Sarah corre grande perigo.
O filme pode ser
visto sob variados ângulos, como por exemplo, o do trabalho dos fotógrafos
de guerra e sua grande importância para que se saiba o que ocorre na linha de
frente de grandes conflitos (e muitos profissionais da fotografia perderam suas vidas na Guerra dos Balcãs, segundo informa o
filme ao seu final), o da grande violência dos conflitos ocorridos nos
Balcãs (em vários episódios, parecem parte de genocídios planejados), o do
suspense sobre o que teria ocorrido com Harrison Lloyd (ele está vivo?
Mutilado? Mentalmente afetado? Morto?), ou o da personalidade e tenacidade de Sarah
Lloyd (sua intuição está correta? Faz sentido uma mãe deixar duas crianças
pequenas aos cuidados de familiares para ouvir sua voz interna e resgatar seu amado marido?). E não se esgotam as possibilidades.
O Resgate de
Harrison não permite a quem não fez um estudo prévio da Guerra dos Balcãs entender completamente quais são, exatamente, as partes em conflito a cada momento. Mesmo assim, o
caminho de Sarah e dos fotógrafos que a ajudam em sua busca por Harrison ilustra como pode ter sido a guerra: bombardeios, mortes por bombas e à queima-roupa, estupros (inclusive de crianças) e muito mais. Um cenário devastado e com seres humanos em situação crítica.
No que concerne ao Direito
Internacional Público (DIP) e ao estudo de guerras, destacam-se aqui três tópicos. O primeiro ponto
de relevo é o trânsito de profissionais de fotógrafos em áreas conflituosas. Sarah e seus amigos, atravessam barreiras de homens armados sem serem por esses molestados. Algo que pode ser explicado: boa parte das pessoas envolvidas em conflitos sangrentos deseja que o mundo veja o que está
ocorrendo com elas e suas famílias e amigos.
O segundo ponto relevante a considerar é o dos genocídios. Em algumas passagens de O Resgate de Harrison, parece nítido o propósito de matar pessoas, independentemente de idade e sexo,
como se o extermínio dos seres humanos "inimigos" fosse o objetivo. E, de fato, na Guerra dos Balcãs, houve genocídios e a
penalização de alguns dirigentes políticos pela Corte de Haia.
O terceiro ponto
que emerge do filme e merece reflexão é o dos limites para as próprias guerras, em um mundo em que, infelizmente, elas ainda existem: o que não é permitido,
segundo normas internacionais, nas regiões em guerra?
Sobre a Guerra dos
Balcãs
Com territórios do
anterior Império Austro-Húngaro,
a Iugoslávia surgiu após a Primeira Guerra Mundial, em 1918, com o nome de Reino dos Sérvios, Croatas
e Eslovenos. A casa real sérvia de Karadordevic se tornou a dinastia real iugoslava.
Em 6 de abril de
1943, durante a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi invadida pelos
países do Eixo. Naquele mesmo ano, um movimento de resistência decretou
a Iugoslávia como sendo um Estado democrático e federal. Em 1944, o rei
reconheceu tal Estado como legítimo, mas, em 1945, a monarquia foi abolida.
Em 1946, após o
fim da Guerra, a Iugoslávia foi renomeada como República Popular Federativa da
Iugoslávia e um governo sob a órbita da União Soviética foi criado. Tal República foi
governada por Josip Broz Tito, presidente, até sua morte, em 1980. Em 1963, o País
foi rebatizado para República Socialista Federal da Iugoslávia (RSFI).
Em 25/12/1991, ocorreu
a renúncia de Michail Gorbachev na União Soviética e, na sequência, a dissolução da União, emergindo países independentes.
No bojo desses eventos e da intensificação do sentimento de nacionalismo,
a Iugoslávia foi desintegrada em cinco países (inicialmente), o que terminou por levar à Guerra dos Balcãs. O filme “O Resgate de
Harrison” se passa no contexto desse sangrento conflito.
A anterior
República da Iugoslávia está, atualmente, dividida em sete Estados, com suas
respectivas capitais, quais sejam: Croácia (Zagreb), Bósnia e Herzegovina
(Sarajevo), Eslovênia (Liubliana), Macedônia do Norte (Esópia), Montenegro(Podgoritza), Sérvia (Belgrado) e Kosovo (Pristina).
Veja também
O Resgate de Harrison, trailer:
A canção Miss Saravejo, relacionada à Guerra dos Balcãs (interpretada Bono Vox, front man da banda U2, e o tenor Luciano Pavarotti):